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Levei, na semana passada, a Tatiane Arquiteta para passear pelo Guggenheim de Bilbao, um emblemático museu de arte moderna que estudei na época de faculdade e, por achar que jamais teria a oportunidade de ver ao vivo, nem estava na minha lista de sonhos a realizar. Já há alguns anos que me sinto no lucro.
As 3 horas flanando pelas galerias me transportaram para 20 anos atrás, quando eu era uma boa desenhista de observação e via um futuro profissional como curadora de arte para museus. Você sabe que eu era Arquiteta, mas não sabe que a minha primeira opção de graduação foi Artes Plásticas, não é? Veja, eu estou aqui falando há 5 anos e ainda há tanto que você não sabe sobre mim! E há tanto de mim que eu esqueci também.
Observando a obra da artista plástica Lynette Yiadom-Boakye, lembrei dos meus primeiros experimentos com o carvão:
“Ah, é mesmo! Como eu gostava de usar carvão!”
E meu marido: “Como alguém pode ter isso dentro de si e simplesmente jogar fora?”
Pois é. Já tem mais de 13 anos que eu não desenho nada.
Lynette pinta há 20 anos. E ela ainda é uma jovem na casa dos 40.
Desde o retorno da viagem, venho pensando em como eu lido (mal) com a intensidade que eu coloco nas minhas missões. A intensidade é tamanha que faz a máquina quebrar e mata de fome a constância. Logo ela, a constância, que é a rainha do tempo e o que permite que tudo aconteça, cresça, se aperfeiçoe e perdure. No meu caso, a intensidade no trabalho faz todo o restante da minha vida morrer de fome. E assim eu tenho vivido - de forma insustentável - pelas últimas décadas.
Outra artista que também estava no Guggenheim é a Yayoi Kusama, que recentemente ficou ainda mais famosa pela parceria com a Louis Vuitton. Ela pinta o mesmo tema (sua obsessão pelas bolinhas coloridas) desde seus 10 anos de idade. Quase centenária, já são mais de 80 anos pintando o mesmo tema.
Voltei da viagem cheia de questionamentos.
Nossa vez:
Como eu ocuparia os meus dias, se ganhar o sustento não fosse uma necessidade?
Qual é aquela única coisa que me abastece de tal forma e me dá um prazer tão grande, que consigo fazê-la aos poucos, a moldando a cada passo, sem me queimar no processo?
Faça um bom fim de semana.
Beijos,
Tati
Me senti rasgada nesse texto. isto porque eu já tenho 10 anos assim, " A intensidade é tamanha que faz a máquina quebrar e mata de fome a constância." "No meu caso, a intensidade no trabalho faz todo o restante da minha vida morrer de fome. E assim eu tenho vivido - de forma insustentável .."
Ainda essa semana falei na terapia: Como reprogramo o meu cérebro? Como reprogramo a minha vida? Eu só queria resetar e fazer tudo diferente. Nos últimos tempos tenho questionado inclusive uma das minhas maiores qualidades (pelo menos é como sou referida) - a RESPONSABILIDADE. Como posso ser tão responsável com tudo o que está fora de mim, e não comigo? Não com tudo que de fato importa ou é saudável e leve para o meu corpo, mente e coração? Não sei. Será que então sou responsável mesmo, só porque entrego o que prometo para o outro por compromisso com o outro, mas não consigo ter o mesmo compromisso comigo? Faz sentido? Não sei também. Tantos projetos comecei, porque acreditava neles com todo o coração, com brilho nos olhos.. e onde se perdeu - falta da constância. Como encontrá-la? Como mantê-la?
Seu texto me atravessou. Melhor (ou pior), me despiu, rs.
Nem sei se te agradeço ou se choro.
PS.: Admiro seu trabalho.
Ontem a noite eu pensava justamente sobre a constância.
Temos várias coisas em comum, Tati. Sou arquiteta, anualmente pintora e também já sonhei em ser curadora.
No meu caso, quem faz a minha alma artista morrer de fome é a voz incessante de que tudo que eu faço precisa de uma utilidade. Tenho uma dificuldade imensa de fazer algo pelo simples prazer que aquilo me traz.