Do meu pai, herdei o nariz e o formato do dedo do pé, além do gosto por tudo que é do bom e do melhor, mesmo que custe todos os salários. Já da minha mãe, herdei, fisicamente, todo o resto e também o senso de urgência: se eu não fizer, não tem quem o faça por mim. Trabalho precisa ser exaustivo, desgastante e doer. O lema de um era “deixa a vida me levar” e do outro, “enquanto não sangrar, não trabalhou o suficiente e não há tempo para descanso”.
Questiono-me até que ponto podemos culpar o sangue que corre nas veias, mas que os exemplos absorvidos na infância são implacáveis, ah, eles são!
Vendo os erros dos dois lados, passei uma vida tentando fugir na direção oposta, mas patrocinada pela terapia, vejo como a maçã realmente não cai longe da árvore. Dadas as devidas proporções, eu vejo muito dos meus pais em mim e por isso, me bateu um grande desespero nos últimos dias.
Como você sabe, o trabalho é o centro da minha vida. É nele que concentro toda a minha energia e foco e por isso, quando este pilar desanda, eu automaticamente desando também. Sinto-me uma estrangeira, tanto no país onde moro como no trabalho que venho construindo pelos últimos 5 anos. O tempo voa.
As perguntas que estão flutuando em minha mente e que eu vou deixar aqui para que você se questione também:
O que de material e imaterial eu já construí e venho construindo?
Quando eu morrer, qual o legado que quero deixar?
O que tem valido a pena?
Faça um bom final de semana.
Beijos,
Tati
a gente ate quer negar.... mas somos iguaizinhos a eles hehehe depois de saber disso, como começar a ser nos mesmos?! essa e a grande descoberta ~ adorei o texto
Tati, lendo sua reflexão ocorreu o inevitável: olhar para dentro. Meu pai é movido pelo trabalho, do tipo que é definido pela vida profissional, que mesmo depois de 15 anos aposentado, ainda adora contar histórias da vida profissional.
Minha mãe é do tipo bom vivant, cresceu no interior do Brasil e aproveita a vida num ritmo que meu pai, paulistano, não compreende muito bem.
Eu, bem... Eu puxei meu pai, o que me faz ser uma pessoa que mistura quem é com o trabalho, mas tenho traços fortíssimos da minha mãe: enquanto não estou trabalhando, me distraio fortemente, consigo me desligar e ver beleza em tudo que não é profissional.
Mas não é bem pra contar isso que eu escrevo essa resposta, mas para falar sobre as perguntas que você cita no texto:
Eu, há alguns anos atrás, no alto dos meus 25 anos, estava construindo um respeitável acervo de coisas materiais e imateriais: apartamento, carro, guarda-roupa recheado de peças que traduziam meu estilo, amigos muito próximo, relacionamento, carreira. Tinha certeza de que tudo valia a pena, estava nos trilhos, e não digo certeza como quem quer me desmascarar, eu estava mesmo certa de tudo aquilo, e era mesmo o melhor lugar que eu poderia estar. Foi aí que eu flertei com a terceira pergunta. Sim, eu morri. Cheguei no hospital com todas as condições para sair de lá com um atestado de óbito, recebi uma enxurrada de mensagens em todas as redes sociais, email, sms, whatsapp e o que mais tiver sobre o quanto eu marquei a vida das pessoas que passaram por mim. Mas aí, por inconformismo e teimosia de um médico, depois de semanas e semanas na UTI, eu voltei.
E se tem uma coisa que eu aprendi com tudo isso, é: dane-se o legado. As pessoas vão mentir, vão sentir culpa, você vai ser elevado a algo especial de qualquer forma.
Releve o depois, você não vai estar aqui. E se você, como eu, tiver a chance de voltar... Bem, essas pessoas vão pouco se importar. Se te faz bem enquanto você está aqui, tá tudo bem (a não sei que você tenha filhos, pq eu não tenho e não falo deste ponto de vista)... c'est la vie, só cuida da sua saúde pra não sofrer enquanto está aqui!
Um beijo,