Sofrer por amar demais: é assim que eu sempre me senti em relação ao trabalho. Minha personalidade obsessiva não me permite somente gostar das coisas que são importantes para mim; eu tenho que amar até sangrar! O burnout pode se instalar facilmente e de forma sorrateira, mas agora estou de olhos bem atentos. Aqui não mais! Amar o meu trabalho autônomo é muito perigoso, pois quanto mais eu trabalho duro e me dedico a ele, mais rápidos e maiores serão os frutos. É quase irresistível! Na matemática do que eu perco e o que vou ganhar, o trabalho ganha disparado.
Um dos meus traços tóxicos é inventar prazos e metas altíssimas, inatingíveis para qualquer pessoa que está com a saúde mental um pouco mais em dia. Eu encaro como uma gincana divertida e cumpro, custe o que custar! Vinte posts para o blog num mês e um novo curso a ser lançado em uma semana, tudo isso dormindo 8 horas por dia, fazendo atividade física, cozinhando comida saudável, tirando tempo para ler, ver meus amigos e passando tempo de qualidade com o marido. É claro que o meu padrão é deixar os pratinhos da vida pessoal caírem para manter girando os pratinhos do trabalho.
E assim eu cancelava encontros com amigos, recusava viagens com o marido, reduzia o fim-de-semana para um só dia (e olhe lá!), passava a penalizar o sono, a atividade física e por aí vai. Não é choque para ninguém que não há saúde que resista a este ritmo e que não há criatividade e trabalho bem feito sem saúde.
Eu fazia - faço - farei (?) tudo para atender a uma meta que eu mesma inventei, mesmo sabendo se tratar de uma “produtividade” - com muitas aspas - burra.
Hoje eu reconheço essas atitudes doentes, mas quando eu estou neste ciclo da falta de clareza mental, sem enxergar a realidade, eu fico muito irritada e estressada se a vida pessoal me impede de executar as tarefas do trabalho; eu simplesmente não consigo evitar.
Recentemente, conversando com uma amiga que já esteve neste mesmo lugar, falávamos de nossos muitos projetos (profissionais, sempre), desejos de crescimento e - sempre elas - nossas metas. Ela também cria metas com prazos apertadíssimos e eu, por estar de fora, pude observar o seu sofrimento. Veja, a gincana é gostosa, mas é sofrida ao mesmo tempo. Um negócio difícil de explicar.
“Amiga, se o livro não for lançado agora em maio, mas sim em julho, é muito grave? Na linha do tempo da sua vida, este prazo impossível faz sentido? Qual é o peso de dois meses, se compararmos aos muitos anos de criação que você ainda tem pela frente?”
Ela disse que nunca havia pensado por esse ponto de vista antes. Nem eu.
Um convite para novos caminhos
Não sei se você viu, mas na edição anterior eu mencionei algumas das dificuldades que sempre enfrentei sendo uma criadora de conteúdo que mora a um oceano de distância da sua audiência e clientes. Dando vazão à vontades antigas, resolvi me lançar num novo projeto, com um novo tema, num novo idioma (veja a opção de tradução do seu navegador!). O projeto Táti.cas de bem viver deixará de ser alimentado em breve, estarei com foco total na minha nova casa virtual. Espero te ver lá!
Perfeito.
Me conectei com seu texto em tantas camadas que nem sei…
Mas o que me ajudou mesmo a sair do looping que o burnout nos coloca foi aprender a criar metas e objetivos de vida mesmo, que não necessariamente envolvem trabalho. Isso tem me ajudado muito e, incrivelmente, me faz estar mais disposta e atenta para projetos profissionais.